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Novata uFund aposta em oferta de crédito via fundação

por Valor Econômico

É num segmento ainda pouco explorado no Brasil, mas com potencial de movimentar R$ 130 bilhões, que a novata uFund pretende desbravar o mercado de crédito via entidades fechadas de previdência complementar (EFPC). A “prevtech” é um dos investimentos da BeeCap, fundada por Bernardo Carneiro, Luciano Camargo Neves e Cláudio Brandão Silveira, ex-CFO da Energisa. E é justamente com um acordo com a Energisa Prev, que tem um patrimônio de cerca de R$ 1,5 bilhão, que operação começa a rodar. 

Pelas regras da previdência complementar, as entidades podem emprestar aos seus participantes até 15% do seu patrimônio, um conjunto de mais de R$ 1 trilhão. Mas, na prática, hoje só há cerca de R$ 20 bilhões em operações. O que seria uma fonte de receita adicional para cumprir suas metas atuariais esbarra na falta de estrutura para fazer a análise de crédito, estipular limites e fazer a gestão das transações, diz Alexandre Teixeira, co-fundador e CEO da uFund. “A gente percebe haver uma relação de confiança, com os participantes mensalmente contribuindo para a sua aposentadoria, mas a comunicação não é fluida.”

O modelo do negócio da uFund foi desenhado para embarcar tecnologia na gestão das EFPC e servir de ponte com os participantes, que muitas vezes desconhecem que têm limites de crédito disponíveis com base nas suas reservas. “Como o funding das fundações é barato e leva em conta suas metas atuariais, as entidades conseguem oferecer taxas de juros muito atrativas”, prossegue Teixeira. Como a operação conta com uma dupla garantia – o débito em folha e o patrimônio do poupador -, a inadimplência é muito baixa e o custo é competitivo até com o consignado do INSS, acrescenta o executivo. 

Como forma de comparação, um empréstimo de R$ 5 mil por 60 meses sairia com uma taxa de 1,37% ao mês na operação com garantia colateral da previdência fechada, enquanto no consignado do INSS os juros seriam de 1,92% e no financiamento de veículo ficariam em torno de 2,02%, segundo simulação feita pela prevtech com base na média informada pelas instituições ao Banco Central (BC).

“É a primeira vez que alguém se dedica a compreender profundamente a patrocinadora, a fundação e o participante”, diz Brandão, que quando foi executivo da Energisa se envolveu na consolidação e saneamento da previdência de empresas adquiridas e participou do comitê de investimentos. 

“Quando a gente vê dados de endividamento, com 80% das famílias com dívida, e 25% delas inadimplentes, e olha o que a fundação pode fazer com juros baixos e que atende suas metas atuariais, com INPC ou IPCA mais 6% e algum spread, há muito potencial, e com risco de crédito próximo de zero.”

O que a uFund oferece no fim é a tecnologia sob o modelo “white label”, o que significa que a marca que aparece é a da fundação parceira. O executivo cita que até para financiamentos de longo prazo, como o imobiliário, é possível fazer uso dos recursos, tirando a restrição da hipoteca do bem, e com redução no valor das. parcelas. “A pegada é que a fundação que utiliza desse instituto melhora a vida dos participantes de forma expressiva”, diz Brandão. O executivo estima um impacto potencial para cerca de 4 milhões de pessoas. 

O limite do crédito leva em conta tanto a margem de 30% da renda do participante, da mesma forma que se usa nos contratos de consignado, quanto o valor da reserva dos participantes. Como as operações de crédito podem ser longas, de até 20 anos, a fatia de comprometimento do salário acaba sendo menor. Em caso de inadimplência, a fundação pode executar usando a parcela dos recursos guardada para a aposentadoria. 

No plano da plataforma está incluir outros serviços financeiros, como cartões de crédito com limites flexíveis, também atrelados às reservas. Para isso, precisaria ter parceria com algum banco emissor, a não ser que se torne uma instituição de pagamento.

 O investimento é suportado pela BeeCap, mas uma pequena rodada de captação é considerada, diz Brandão. Não há necessidade de recursos para as operações de crédito, porque o funding vem das fundações.